Empresas do cartel do Metrô entram na mira também por contratos na saúde
Além de atuar no ramo ferroviário, onde é alvo de denúncias, a Siemens produz equipamentos para tomografia computadorizada, mamografia e aparelhos de raios X, e tem governo paulista como cliente
Por Cida de Oliveira – Rede Brasil Atual
A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa de São Paulo convocou o secretário estadual de Saúde, David Uip, a prestar esclarecimentos sobre as licitações e contratos firmados entre o governo paulista e a empresa Siemens, bem como com os consórcios dos quais a companhia alemã faça ou tenha feito parte.
“Ainda não há nada de concreto contra a Siemens e suas parceiras, mas a empresa fornece e instala equipamentos para realização de mamografias, radiografias, ressonância magnética e outros exames em unidades estaduais de saúde, inclusive hospitais universitários e autarquias”, disse a presidenta da comissão, a deputada Telma de Souza (PT).
De acordo com ela, a convocação é fruto de um acordo entre todas as comissões presididas por parlamentares petistas, que entendem a necessidade de apurar possíveis irregularidades em contratos com essas mesmas empresas que atuam também no setor de transportes ferroviário. Assim, secretários de outras áreas, como infraestrutura e educação, serão convocados a prestar esclarecimentos.
Em julho vieram a público denúncias de executivos da Siemens ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) da formação de cartel que atua na Companhia do Metrô e na Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O esquema teria desviado mais de R$ 40 milhões somente com propinas a funcionários do governo paulista.
“A preocupação é que o esquema de cartel/superfaturamento e pagamento de propinas tenha extrapolado o transporte ferroviário e causado prejuízo a outras áreas, em especial na saúde, que é tão carente de recursos”, disse a parlamentar.
Segundo Telma, Uip também deverá responder sobre pontos da secretaria que deveriam ser esclarecidos pelo seu antecessor, Giovanni Guido Cerri, que entregou o cargo no último dia 15 para se dedicar a atividades acadêmicas. Segundo informações de bastidores, ele estaria disposto a concorrer à reitoria da USP, em substituição ao atual reitor, João Grandino Rodas.
No entanto, ainda segundo bastidores, há a desconfiança de que ele teria sido demitido por Alckmin, que optou por Uip para ofuscar no estado a figura do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, provável candidato do PT ao governo paulista.
Médico do governador, Uip foi tratou da saúde de Mário Covas e de diversas celebridades, apesar de escândalos vinculados ao seu nome enquanto diretor do Instituto do Coração.
Pelo regimento, os secretários têm de prestar contas ao Legislativo a cada quatro meses. Cerri, no entanto, nunca compareceu à Casa, apesar de convites e convocações.
O atual secretário deverá prestar contas também sobre contratos de gestão com Organizações Sociais referentes ao segundo semestre de 2011 e primeiro semestre do ano passado. Um levantamento do deputado Gerson Bittencourt apontou diversas irregularidades nos documentos analisados.