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“Gasolina cara? A culpa é do Parente”, por Herivelto Vela

A greve dos caminhoneiros escancarou a fragilidade do governo, que também enfrenta greve de petroleiros, mas a saída tem que ser pela democracia

 

Por Herivelto Vela*

 

O governo de Michel Temer foi esfacelado. Dez dias de greve de caminhoneiros autônomos, uma greve que paralisou o país e que ainda não acabou, foi a pá de cal no pouco de governabilidade que lhe restava.

Mesmo assim, Temer insiste com sua política de governo equivocada, contra a soberania nacional, uma política completamente oposta àquela que se comprometeu na campanha eleitoral.

Com o país paralisado, Temer acabou cedendo, mas ainda fez muito pouco do que deveria pra solucionar a questão.

A redução do preço do diesel, com o fim dos reajustes diários, fim da cobrança do pedágio sobre o eixo suspenso, foram importantes conquistas dos caminhoneiros, mas a redução é provisória, não engloba a gasolina e a forma de precificação dos combustíveis continua. Vários estados continuaram com bloqueios de caminhoneiros e lideranças já tem falado em ir com os caminhões fazer um ato em Brasília e até em uma nova greve.

Temer não liga para a alta dos combustíveis. Parece óbvio, mas é necessário explicar. Uma das primeiras medidas de Temer foi nomear o tucano Pedro Parente para a presidência da Petrobrás, que logo alterou a regra dos preços dos combustíveis.

Ao invés da Petrobrás continuar colocando seu preço a partir do custo de produção ela passou a acompanhar o preço do mercado internacional, que também varia conforme o preço do dólar. E assim já foram 239 reajustes.

Muito pior é saber que Pedro Parente tem feito um desmonte na nossa maior estatal. Além de vender poços do pré-sal a preço de banana, ter transferido a fabricação de plataformas e navios para a China, ele reduziu em 30% a atividade das nossas refinarias, deixando de produzir aqui para importar de empresas estrangeiras e dar dinheiro para os gringos.

Os petroleiros fizeram greve pra denunciar essa questão e para dizer não ao plano de privatização da Petrobrás. Surtiu efeito. Um dos membros do conselho administrativo da estatal, que é ligado à Shell, renunciou. E a greve só foi suspensa por causa de uma decisão do TST que claramente viola os direitos sindicais.

Estive na greve dos caminhoneiros prestando solidariedade porque entendo que a greve dos trabalhadores por melhores condições, por mais renda, por dignidade, é legítima e merece nosso apoio, ainda que fosse apenas pelo diesel.

Mesmo com toda a falta de representatividade sindical, eles conseguiram mobilizar a categoria e mostrar que o preço dos combustíveis está matando o desenvolvimento do país. Parabéns a eles.

Mas a falta de um sindicato forte ficou evidente no momento crucial, na hora de negociar. Quem se dizia representante fez um acordo com o governo e não consultou a categoria.

O objetivo de Temer em convocar todo o aparato das Forças Armadas, sob o pretesto de manter a ordem, foi pra tentar dispersar as greves tanto dos caminhoneiros quanto dos petroleiros. Isso não é solução.

Vários grupos populares ganharam corpo por essa vontade de mudança de um governo que está estragando o país.

Vi pedidos de intervenção militar nesses dias. Penso que muitos acabam aceitando esse discurso por verem que o Congresso não vai votar um impeachment de Temer e acreditar que os militares poderiam depor Temer e já convocar eleições, exatamente como prometeram em 64, mas ficaram 21 anos no poder.

Também fico preocupado em ver a ministra do STF, Carmén Lúcia, perto do fim de seu mandato, falar em parlamentarismo.

Duas situações desnecessárias, ainda mais faltando poucos meses para as eleições, que terão um alto índice de renovação no Congresso.

Eleições essas em que o pré-candidato à presidência que lidera as pesquisas está preso sem provas, com base apenas em uma delação que não foi homologada, por falta de provas.

Mesmo depois de dois meses preso, Lula vence disparado qualquer outro candidato, em todos os cenários. E a candidatura de Lula continua sendo mantida pela executiva do partido e pela militância.

A única saída para o país é pela democracia. A democracia é o maior valor de uma nação.

 

*Herivelto Vela é presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Pindamonhangaba, também é presidente do Partido dos Trabalhadores e bacharel em direito